A primeira eleição para juízes no México – sem precedentes no mundo – foi marcada por protestos e abstenção em massa dos cidadãos neste domingo (1). Ao todo, mais de três mil candidatos disputaram cerca de 800 cargos em nível estadual e federal, incluindo as nove vagas de ministros da Suprema Corte.
Além dos milhares de mexicanos que decidiram não ir às urnas, alguns dos que foram utilizaram o momento para protestar contra a corrupção no sistema judiciário do país. Diversas fotos de cédulas circularam nas redes sociais, exibindo mensagens escritas pelos próprios eleitores, expressando insatisfação com a votação.
Entre as mensagens que podiam ser lidas estavam: “A justiça não deve ser política”; “Onde está o juiz que não deve favores a ninguém? Porque eu não o vejo aqui “; “RIP ao Judiciário” e “Minha oposição é leal ao México”.
As eleições fazem parte de uma reforma constitucional promovida pelo ex-presidente Andrés Manuel López Obrador (2018-2024), aprovada em setembro de 2024. Segundo os aliados do ex-mandatário de esquerda, o pleito seria usado como mecanismo de combate à corrupção, no entanto a população mexicana recebeu o projeto com ceticismo e oposição aberta.
A reforma do sistema judiciário prevê, entre outras medidas, a redução do número de juízes da Suprema Corte de Justiça da Nação (SCJN) de 11 para nove e a criação do Tribunal de Disciplina Judicial.
O processo, promovido pelo partido governista, estabelece ainda que juízes e ministros da Suprema Corte sejam determinados por voto popular, entre 881 cargos judiciais, o que tem sido questionado por setores acadêmicos, organizações internacionais e associações judiciais.
A previsão é de que a contagem dos votos demore aproximadamente dez dias, de acordo com o cronograma aprovado pelo Instituto Nacional Eleitoral (INE, na sigla em espanhol). A contagem para a Suprema Corte deve ser finalizada até esta terça-feira (3), enquanto outros cargos começarão a ser contados até o fim de semana de 7 e 8 de junho, quando serão abertas as indicações para os tribunais de circuito, seguidas pelas para os tribunais distritais em 9 e 10 de junho.
A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, declarou que as eleições foram “um sucesso”. No entanto, dados divulgados pelo INE nesta segunda-feira (2) mostram que entre 12,5% e 13,3% dos 100 milhões de eleitores foram às urnas, apontando uma abstenção massiva.