Caminhoneiros estão realizando nesta quarta-feira (28) uma greve em várias cidades do Irã, bloqueando estradas e desafiando a autoridade do regime islâmico por melhores condições de trabalho, salários justos e contra a ameaça de aumento no preço do combustível.
O movimento, que começou na última sexta-feira (23) em Bandar Abbas, um dos principais portos do país, já se espalhou para mais de 130 cidades em 30 províncias, segundo a oposição iraniana no exílio.
De acordo com informações da Associated Press e do Washington Post, os caminhoneiros protestam principalmente contra os baixos salários, o alto custo do seguro e o possível reajuste no preço do diesel, que deve subir de US$ 0,04 para quase US$ 0,50 por litro a partir de junho. O regime iraniano justifica a medida como forma de evitar o contrabando de combustível para países vizinhos, como o Paquistão, onde o litro custa mais de US$ 1.
O movimento ganhou força após o apoio público de dissidentes de peso, como o cineasta Jafar Panahi, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, que pediu uma paralisação nacional da categoria.
“A greve é um grito alto para o governo: chega! Parem com a repressão e o saque desenfreado antes que tudo se perca e nada reste para o povo”, escreveu Panahi em suas redes sociais.
Também a ativista e Nobel da Paz, Narges Mohammadi, atualmente presa sob acusação de “colusão contra a segurança do Estado”, manifestou seu apoio à greve dos caminhoneiros por meio da plataforma X, ressaltando a importância do movimento diante do cenário de opressão vivido no país.
Segundo o Conselho Nacional de Resistência do Irã (NCRI), os caminhoneiros resistem a ameaças e promessas vazias do regime, que tenta forçar o fim da greve com intimidações judiciais, prisões e promessas de reajuste das tarifas apenas para depois de junho. Na cidade iraniana de Kermanshah, a oposição no exílio citou que motoristas chegaram a ser presos, o que gerou novos protestos em frente à sede da gestão local. Na cidade de Arak, caminhoneiros realizaram uma carreata de protesto, enquanto na cidade de Shiraz grandes rotas de transporte permaneciam sem caminhões, de acordo com vídeos compartilhados nas redes sociais.
O impacto da greve é sentido em todo o país, já que os caminhoneiros são responsáveis por mais de 90% do transporte de cargas no Irã, com uma frota estimada em 900 mil motoristas e 400 mil caminhões ativos. O setor movimenta diariamente milhões de toneladas de combustíveis, alimentos, farinha e produtos industriais, sendo essencial para a economia nacional, já fragilizada por sanções internacionais.
As manifestações ocorrem em meio a forte repressão e lembram outros episódios recentes de protestos no Irã motivados por questões econômicas, como as manifestações de 2017, 2018 e 2019, que resultaram em centenas de prisões e no bloqueio temporário da internet no país. No passado, medidas de repressão do regime contaram com a atuação pesada da polícia e da força paramilitar Basij, braço voluntário da Guarda Revolucionária.
