Lula se reuniu com cerca de 20 ditadores neste mandato

Apesar do discurso alegadamente democrático que o elegeu em 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com ao menos 20 ditadores, autocratas ou líderes autoritários ao longo de seu atual terceiro mandato. Os líder da China, Xi Jinping, e o ditador de Cuba, Miguel Diaz Canel, lideram a lista de reuniões bilaterais, somando sete encontros privados com o petista.

Somente em 2023, primeiro ano deste seu terceiro mandato, Lula se reuniu com o ditador cubano em quatro ocasiões.

Já com o autocrata chinês o mandatário brasileiro teve ao menos três encontros privados, durante viagens oficiais à China, em 2023 e 2025 e também durante uma visita que Xi Jinping fez ao Brasil em 2024.

O ditador russo, Vladimir Putin, além de autocratas africanos e árabes, também entram na lista de líderes autoritários com quem Lula se reuniu nos últimos três anos. De acordo com levantamento realizado pela Gazeta do Povo, o petista manteve encontros com ao menos 20 representantes de 19 países que vivem em regimes autoritários ou ditatoriais ao longo deste mandato.

O levantamento feito pela reportagem leva em conta os compromissos oficiais previstos na agenda presidencial e que aconteceram em formato de visitas presenciais. Os encontros contabilizados só levam em conta agendas bilaterais ou privadas.

Para classificar o país como não democrático, a reportagem utilizou o último ranking do jornal inglês The Economist, publicado em 2025m referente a 2024, que anualmente elenca as nações mais e menos democráticas do mundo. O método utilizado pela publicação leva em consideração a avalição de especialistas e pesquisas de opinião pública dos 167 países que aparecem na lista.

O processo eleitoral, a liberdade da sociedade civil e o funcionamento das estruturas governamentais são avaliados pelo jornal para classificar os países como democráticos ou não. Países citados, como o Haiti ou Etiópia, por exemplo, apesar de não serem ditaduras “clássicas” como Cuba e Venezuela, possuem características autocráticas e por isso foram classificadas como regimes autoritários.

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Viagem para Rússia selou encontro de Lula com principais líderes autocratas

Desde o início desta gestão, Lula manteve uma agenda internacional ativa, com participação nos principais fóruns mundiais. Sob a justificativa de diálogo com todos os países, independentemente do viés político ou ideológico, o petista se reuniu ainda com figuras controversas e até mesmo com um acusado de crimes de guerra: Vladimir Putin.

A visita à Rússia em maio deste ano foi uma das mais polêmicas. O ditador Vladimir Putin, além de responsável por dar início ao conflito na Ucrânia, tem um mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) pelo rapto 19 mil crianças ucranianas para a Rússia.

Com Putin impossibilitado de vir ao Brasil sob o risco de ser preso, Lula viajou até a Rússia para encontrá-lo. O petista embarcou para Moscou com a intenção de prestigiar as celebrações dos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra. Além de posar ao lado de Putin e outros convidados para assistir ao desfile militar organizado pelo Kremlin, Lula também manteve reuniões privadas com o líder russo.

No encontro, conforme informou o Itamaraty, foram tratados assuntos políticos e de interesse dos dois líderes. Lula revelou interesse em adquirir tecnologia nuclear, que Moscou não transfere nem para parceiros próximos. A viagem até o país e o encontro com Vladimir Putin foram apontados por analistas como um erro diplomático.

Após diversos posicionamentos e falas controversas sobre a guerra, a visita de Lula foi interpretada como mais um sinal de alinhamento a Moscou em meio à guerra contra a Ucrânia. Declarações do petista sobre a guerra no Leste Europeu nos últimos meses já haviam gerado críticas por relativizar a responsabilidade da Rússia na invasão em 2022.

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Lula viajou duas vezes para a China e recebeu Xi Jinping em Brasília

Lula também se reuniu com outros conhecidos líderes autocráticos ao longo deste mandato, entre eles Nicolás Maduro, da Venezuela, e Xi Jinping, da China. Uma das principais apostas do petista ao retornar ao Palácio do Planalto foi costurar uma maior aproximação com os dois países que, na concepção de analistas, teria sido motivada pela identificação ideológica com os dois ditadores e o comércio com Pequim.

Xi Jinping foi o segundo líder autocrático com quem Lula mais se reuniu, somando três encontros. Apenas nesta gestão, o petista fez duas viagens oficiais à China. Em 2023, o mandatário brasileiro viajou a Pequim com uma grande comitiva em busca de acordos políticos e comerciais com o gigante asiático. Cerca de dois anos depois, em maio deste ano, Lula retornou ao país com a intenção de ampliar a parceria com o Partido Comunista Chinês de Xi Jinping e pediu para o chinês enviar um “especialista” de confiança para debater regulação de redes sociais no Brasil. A China é conhecida pela alta capacidade de censurar a liberdade de expressão em suas redes sociais.

Em novembro de 2024, Xi veio ao Brasil para a Cúpula de Líderes do G20 que o Brasil sediava no Rio de Janeiro. Após os compromissos na capital carioca, o líder chinês viajou até Brasília para uma agenda privada com Lula. Todos esses encontros e gestos, tidos como uma estratégia de aproximação política com a China, partem de uma identificação ideológica de Lula com o autocrata chinês.

Sob o comando de Xi Jinping, a China intensificou o controle estatal, reduziu liberdades individuais e adotou uma postura mais autoritária e investiu no aumento de seu arsenal. A China também é acusada de violar direitos humanos, censurar a internet e manipular a imprensa. Lula, no entanto, minimiza esses fatos e justifica a aproximação com Pequim pelo comércio, já que hoje a China é o principal parceiro comercial do Brasil.

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Brasil buscou reaproximação com Venezuela de Nicolás Maduro

Mas além da China, a Venezuela de Nicolás Maduro também entrou no radar da estratégia de reaproximação de Lula. Sob a justificativa de retomar as relações diplomáticas que haviam sido rompidas na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Maduro foi recebido com pompas por Lula em Brasília. Os dois líderes se reuniram ao menos em duas ocasiões durante a atual gestão de Lula para encontros reservados e o petista chegou a sair em defesa do regime venezuelano.

Após a criticada recepção feita ao ditador venezuelano em Brasília, Lula chegou a afirmar que a Venezuela era “vítima de uma narrativa de autoritarismo e antidemocracia”, ignorando as violações de direitos humanos e perseguições políticas orquestradas por Maduro no país. Tais afirmações causaram desgastes internacionais e também internos para Lula. Mas ainda em nome da aproximação com Venezuela, a diplomacia brasileira tentou interceder em favor da realização de eleições presidenciais alegadamente democráticas no país.

Entre ligações e encontros por membros do governo, o Brasil tentou intermediar a realização de um pleito que fosse reconhecido internacionalmente. Os esforços, no entanto, não obtiveram êxito. Após as eleições, ocorridas em julho de 2024, e diante da vitória de Nicolás Maduro sem comprovação transparente do processo eleitoral, Lula optou por se distanciar do líder chavista. A decisão, porém, foi considerada tardia. A gestão petista já havia sofrido um desgaste diplomático diante da insistência de apoio à Venezuela.

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Lula se reuniu com principais ditadores dos Brics

Para além dos ditadores de China, Rússia, Cuba e Venezuela, líderes autoritários de países africanos, asiáticos e do Oriente Médio também se reuniram com Lula. De acordo com levantamento realizado pela Gazeta do Povo, o mandatário brasileiro se reuniu com ao menos 20 líderes de países que vivem em regimes ditatoriais. Foram eles: Arábia Saudita, Irã, Catar, Egito, Etiópia, Líbia, Haiti, Jordânia, União dos Comores, Palestina, Abu Dhabi, Vietnã, República Democrática do Congo e República do Congo.

Grande parte dos encontros aconteceu às margens de eventos internacionais ou cúpulas. Em alguns deles, contudo, o petista foi convidado para ir até o país, como foram os casos de Emirados Árabes, Arábia Saudita, Catar, Egito, Etiópia e Vietnã. O petista também foi a Cuba, China e Rússia para visitas fora de contexto de cúpulas de líderes mundiais.

O Planalto alegou que a maioria das reuniões foi motivada pela parceria comercial, com a intenção de fechar acordos bilaterais. Nos encontros com líderes de países que possuem identificação ideológica com Lula, o interesse em “reforçar os laços” políticos e manter um diálogo próximo também esteve na pauta — como foi o caso dos encontros com Xi Jinping e Vladimir Putin, por exemplo.

Algumas dessas visitas possuem ainda um fator político comum: os Brics. O bloco de nações emergentes inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, teve sua expansão anunciada nos últimos anos com a inclusão de Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Etiópia, Irã e Indonésia como membros plenos. Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão também foram integrados aos Brics, porém como membros parceiros — ou seja, podem acompanhar e participar das reuniões, mas não possuem poder decisório.

Neste terceiro mandato, Lula já visitou quase todos os membros plenos dos Brics, com exceção do Irã, para onde mandou seu vice Geraldo Alckmin. Apesar de não ter viajado até o Teerã, Lula se reuniu com presidentes iranianos. Em agosto de 2023, o brasileiro se encontrou com Seyyed Ebrahim Raisi, então presidente do país, às margens Cúpula de Líderes dos Brics, que ocorreu na África do Sul. Raisi morreu em maio de 2024 após um acidente de helicóptero e foi substituído por Masoud Pezeshkian. Lula ainda não se reuniu com o novo líder iraniano, mas os dois se falaram por telefone em julho de 2024.

Considerado um dos países menos democráticos do mundo (ocupando a 154ª posição no ranking do The Economist), o Irã é acusado de patrocinar terroristas. Grupos como o Hamas e Hezbollah, que causam guerras no Oriente Médio, são apoiados pelo governo iraniano. O país também é acusado de cometer uma série de crimes contra os direitos humanos e os direitos das mulheres. Como atual membro dos Brics, Lula ampliou as relações com o país.

Dos 11 países com poder decisório dentro do bloco, apenas o Brasil, a Índia, a África do Sul e a Indonésia não são considerados ditaduras. Neste ano, a Cúpula de Líderes do Brics acontece no Rio de Janeiro, já que o governo brasileiro preside o bloco. A expectativa é que Lula receba grande parte destes ditadores para agendas no Brasil.

Veja a lista completa de encontros de Lula com ditadores neste mandato:

Ao longo de três anos e meio deste mandato, Lula se reuniu com ao menos 20 líderes de países considerados regimes autoritários de acordo com o ranking realizado pelo The Economist. Foram eles:

  • Miguel Diaz-Canel – Cuba
    24 de janeiro de 2023 na Argentina
    22 de junho de 2023 na França
    16 de setembro de 2023 em Cuba
    02 de dezembro em Dubai
  • Xi Jinping – China
    14 de abril de 2023 na China
    20 de novembro de 2024 em Brasília
    13 de maio de 2024 na China
  • Umaro Sissoco Embaló – Guiné Bissau
    2 de janeiro de 2023
  • Xeique Mohammed bin Zayed Al Nahyan – Emirados Árabes
    15 de abril de 2023 nos Emirados Árabes Unidos
  • Nicolás Maduro – Venezuela
    29 de maio de 2023 em Brasília
    01 de março de 2024 em São Vicente e Granadinas
  • Azali Assoumani – União das Comores
    21 de maio de 2023 no Japão
  • Denis Sassou N’guesso – República do Congo
    23 de junho de 2023 na França
    9 de julho de 2023 no Brasil
  • Félix Tshisekedi – República Democrática do Congo
    9 de julho de 2023 no Brasil
  • Seyyed Ebrahim Raisi – ex-presidente do Irã
    24 de agosto de 2023 na África do Sul
  • Mohammed bin Salman – Arábia Saudita
    10 de setembro de 2023 na Índia
    28 de novembro de 2023 na Arábia Saudita
  • Tamim bin Hamad al-Thani – Catar
    30 de novembro de 2023 no Catar
  • Abdel Fattah El-Sisi – Egito
    15 de fevereiro de 2024 no Egito
    18 de novembro de 2024 no Rio de Janeiro
  • Abiy Ahmed – Etiópia
    16 de fevereiro de 2024 na Etiópia
  • Mohamed al-Menfi – Líbia
    18 de fevereiro de 2024 na Etiópia
  • Garry Conille – Haiti
    23 de setembro de 2024 em Nova York
  • Rei Abdullah II – Jordânia
    24 de setembro de 2024 em Nova York
  • Sheikh Khaled bin Mohamed bin Zayed Al Nahyan – Emirados Árabes
    18 de novembro de 2024 no Rio de Janeiro
  • Vladimir Putin – Rússia
    8 de maio de 2025 na Rússia
  • Luong Cuong e Pham Minh Chinh presidente e premiê do Vietnã
    26 de março de 2025 no Vietnã

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