Moradores da província de Holguín, no leste de Cuba, enfrentam uma das situações mais graves dos últimos anos: a necessidade de recorrer ao fogão de lenha ou ao carvão para conseguir preparar as próprias refeições. O cenário, relatado pelo portal independente Cubanet nesta segunda-feira (26), é resultado direto da escassez de gás liquefeito e dos constantes apagões, que vêm se agravando desde o fim de 2024 e revelam o colapso dos serviços básicos sob o regime comunista.
Segundo relatos colhidos pela reportagem, famílias inteiras estão adaptando o dia a dia para sobreviver diante do retrocesso imposto pela crise energética. Miriam Corrales, moradora de Holguín, sintetiza o problema: “Não há gás e são muitas horas de apagão; por isso temos que cozinhar com lenha”. A fala resume a rotina imposta a milhares de cubanos, obrigados a abandonar métodos modernos e recorrer a alternativas rudimentares.
A situação em Holguín se agravou especialmente desde novembro do ano passado. Laura Sofía Reyes, uma moradora local, explicou ao Cubanet que já não conta mais com o fornecimento regular de gás e passou a usar carvão para cozinhar: “Estou sem gás e cozinhando com carvão”.
Por causa deste cenário de escassez, o preço do carvão disparou em Holguín, tornando-se um obstáculo a mais para as famílias. Eugenia Campos Bravo relatou ao portal que precisou trocar o carvão pela lenha, porque não consegue mais arcar com os custos.
“Estou cozinhando com lenha porque é mais barata que o carvão. Até há poucos dias, o saco de carvão custava 1.200 pesos, mas agora está em 1.800 e até mais”. A lenha, antes alternativa menos comum, virou o único recurso para muitos diante da crise e do aumento contínuo dos preços.
Enquanto a população enfrenta o aumento de custos e os riscos à saúde associados ao uso de lenha e carvão, o regime comunista não oferece respostas concretas. Migdalia Uriarte, também residente em Holguín, diz que a esperança está restrita a boatos.
“Dizem, não sei se é verdade, que já este mês vão começar a vender gás”. A falta de informação oficial amplia a sensação de abandono entre os moradores.
A crise de abastecimento se deve, sobretudo, à incapacidade financeira do regime comunista para pagar fornecedores internacionais. Recentemente, navios com gás chegaram à costa cubana, mas permaneceram parados devido ao não pagamento das cargas. O diretor adjunto da estatal União Cuba Petróleo (CUPET), Irenaldo Pérez Cardoso, admitiu em entrevista à TV estatal que a “falta de concretização nos pagamentos exigidos para autorizar a operação” é hoje o principal entrave. Apenas após a regularização dessas dívidas a ditadura estima retomar a distribuição nacional do combustível, num prazo de até 48 horas.
Em outros territórios de Cuba, como nas províncias de Villa Clara e Sancti Spíritus, o comércio de gás foi gradualmente retomado. Em Holguín, porém, a situação continua indefinida.
A crise é ainda mais intensa para quem vive em prédios e apartamentos. Sem acesso a gás ou eletricidade, muitos cozinham com carvão em áreas comuns ou mesmo dentro dos apartamentos, agravando as condições de convivência.
“Assim como nós, várias pessoas no prédio também cozinham com carvão. Temos as paredes manchadas pela fumaça”, relatou o morador Marino Laguardia.
O silêncio das autoridades aprofunda o clima de incerteza e insegurança. Amalia Abreu desabafou ao Cubanet.
“Meus dois botijões estão vazios. Em março era minha vez de comprar e o gás acabou… Estamos cozinhando com o carvão que meu filho comprou. O governo não diz nada, não informa nada”, disse.