Neste domingo (11), o ditador da Rússia, Vladimir Putin, surpreendeu o mundo ao propor negociações diretas com a Ucrânia na próxima quinta-feira (15) em Istambul, na Turquia, que seriam as primeiras conversas presenciais em três anos entre representantes dos dois países para tentar acabar com a guerra iniciada em fevereiro de 2022.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que aceita a proposta, mas cobrou que Moscou cumpra antes uma exigência feita no sábado (10) pelos governos do Reino Unido, França, Alemanha e Polônia, de um cessar-fogo incondicional de 30 dias na guerra a partir de segunda-feira (12), sob o risco de imporem novas sanções a Moscou.
O ultimato foi apoiado pelo presidente americano, Donald Trump, que neste domingo pediu para que a Ucrânia aceite a proposta russa de negociar diretamente na Turquia.
“Aguardamos um cessar-fogo total e duradouro, a partir de amanhã, para fornecer a base necessária para a diplomacia. Não faz sentido prolongar as mortes. E estarei esperando por Putin na Turquia na quinta-feira. Pessoalmente. Espero que desta vez os russos não procurem desculpas”, escreveu Zelensky no X.
As únicas conversas diretas entre representantes da Rússia e da Ucrânia desde o início do conflito ocorreram em 2022, poucos dias após o início da guerra, em Belarus, na fronteira Belarus-Ucrânia e na Turquia.
Neste domingo, o Kremlin disse que as negociações de paz propostas por Putin partirão do chamado “Comunicado de Istambul”, um rascunho de acordo produzido há três anos, mas que foi abandonado depois do massacre de civis perpetrado pelas tropas russas em Bucha, na região de Kiev.
Segundo a agência Reuters, que teve acesso a uma cópia do rascunho, a Ucrânia concordaria em adotar neutralidade militar em troca de garantias de segurança internacional por parte dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Reino Unido, China, França, Rússia e Estados Unidos) e de outros países, incluindo Belarus, Canadá, Alemanha, Israel, Polônia e Turquia. Essa neutralidade incluiria o compromisso de não aderir à OTAN.
Entretanto, o mundo tem razões para desconfiar da súbita vontade de Putin de negociar diretamente com a Ucrânia (conversas indiretas já vinham sendo mediadas pelo governo Trump).
Para começar, apesar de Putin ter dito que aceita retomar “as negociações diretas sem quaisquer pré-condições”, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, reiterou neste domingo em entrevista à ABC News um ponto que Moscou já havia manifestado: não aceitará que tropas da OTAN atuem como forças de paz caso um cessar-fogo seja alcançado.
O segundo ponto, principal, é que Putin não costuma cumprir o que promete. Em março, quando Trump obteve o compromisso de que Rússia e Ucrânia cessariam os ataques à infraestrutura de energia um do outro durante 30 dias, Kiev denunciou que os bombardeios russos a essas instalações continuaram.
O ditador russo também prometeu um cessar-fogo total durante a Páscoa, em abril, e durante três dias na semana passada, durante as comemorações do Dia da Vitória (sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial, há 80 anos). Novamente, os ataques à Ucrânia continuaram.
Justamente por não confiarem em Putin, os aliados de Kiev querem que Moscou cesse as hostilidades antes de qualquer conversa.
“Esperamos que Moscou agora concorde com um cessar-fogo. Isto é essencial antes de iniciar um diálogo genuíno. As negociações não podem começar até que as armas sejam silenciadas”, escreveu no X o chanceler alemão, Friedrich Merz.
De acordo com informações da Rádio França Internacional (RFI), o presidente francês, Emmanuel Macron, disse neste domingo que a proposta de Putin para negociações de paz diretas com a Ucrânia é “um primeiro passo, mas não suficiente”, e que o ditador russo está “procurando uma saída, mas ainda quer ganhar tempo”.
“Precisamos permanecer firmes com os americanos e dizer que o cessar-fogo [exigido para segunda-feira pelos aliados ucranianos] é incondicional e então poderemos discutir o resto”, afirmou o líder francês.