Qual será o papel de Rússia e China no confronto entre Israel e Irã

O mundo entrou numa nova fase de tensão no Oriente Médio após a ofensiva israelense contra instalações nucleares e militares do Irã, ocorrida na madrugada de sexta-feira (13). Diante deste cenário, uma questão paira no ar: qual será o papel da China e da Rússia neste conflito em curso?

Até agora, as duas potências agiram de forma previsível: condenaram os ataques israelenses, prestaram apoio verbal ao Irã e sinalizaram desejo de mediação. A China, por exemplo, declarou estar “profundamente preocupada com o ataque de Israel ao Irã, que levou a uma escalada repentina do conflito militar”, segundo o porta-voz Guo Jiakun. Em telefonema ao chanceler iraniano Abbas Araghchi, o ministro do regime chinês, Wang Yi, afirmou que Pequim “apoia o Irã em salvaguardar sua soberania, defender seus direitos legítimos e garantir a segurança de seu povo”. Também condenou os ataques a instalações nucleares, dizendo que “criam um precedente perigoso com consequências catastróficas”.

A Rússia foi ainda mais direta. Em nota oficial, o Ministério das Relações Exteriores do Kremlin classificou a operação israelense como “uma clara violação da Carta da ONU”, denunciando ataques contra “cidadãos, cidades pacíficas e instalações críticas de energia nuclear”. Moscou afirmou que “a responsabilidade pelas consequências desses atos provocativos recai integralmente sobre a liderança israelense”.

Mas, apesar das palavras, nem Rússia nem China sinalizaram disposição de entrar de forma ativa no conflito. Em entrevista à Gazeta do Povo, o analista Igor Lucena, economista, especialista em relações internacionais e CEO da Amero Consulting, disse que “a Rússia, já tendo perdido quase um milhão de soldados na guerra da Ucrânia, tampouco teria condições de apoiar o Irã (neste conflito), apesar de ambos os países manterem alinhamento político”. Ele pontuou ainda que a China, por sua vez, evita envolvimento direto em conflitos armados e mantém sua atuação centrada na diplomacia econômica e política.

Ambos os regimes aliados de Teerã têm muito em jogo neste conflito. A China comunista investiu US$ 400 bilhões em infraestrutura iraniana em troca de petróleo com desconto, segundo acordo assinado em 2021. O Irã é hoje um dos pilares da presença chinesa no Golfo Pérsico. E, como alertou o especialista Gordon Chang à Fox Business, essa relação estratégica transformou Teerã em um “proxy” regional de Pequim. Se o regime iraniano cair ou for severamente enfraquecido, a China pode perder influência e acesso preferencial à energia. Contudo, mesmo diante desse cenário, Pequim deve continuar tentando manter neutralidade, uma vez que não deseja colocar em risco seus investimentos nem sua posição diplomática na região.

No caso da Rússia, Teerã representa hoje uma das últimas peças-chave da estratégia do Kremlin para manter influência no Oriente Médio, especialmente após a perda de espaço na Síria e o isolamento diplomático resultante da guerra na Ucrânia. Um eventual colapso do atual regime iraniano enfraqueceria significativamente o eixo antiocidental que Moscou tenta articular com o apoio de aliados como China, Coreia do Norte e Venezuela.

“Se Netanyahu conseguir pressionar a República Islâmica e provocar uma mudança de regime, é mais provável que qualquer novo governo não seja tão positivo em relação a Moscou”, alertou um acadêmico russo, que não teve seu nome divulgado, ao Washington Post.

Embora em abril a Rússia tenha firmado um acordo de “parceria estratégica” com o Irã, o pacto não inclui qualquer cláusula de defesa mútua. “A assinatura do tratado não significa o estabelecimento de uma aliança militar com o Irã”, esclareceu o vice-chanceler Andrey Rudenko ao parlamento russo. Isso mostra que, apesar da retórica contra Israel, o Kremlin não tem obrigação – e, ao que tudo indica, nem disposição – de intervir militarmente ao lado do Irã no conflito em curso.

Diante disso, Moscou deve concentrar seus esforços na diplomacia. A especialista Hanna Notte, do think tank Center for Nonproliferation Studies, disse, segundo o The Moscow Times, que a Rússia buscará atuar neste conflito nos bastidores, explorando canais como o Conselho de Segurança da ONU e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para preservar influência regional e conter a escalada.

Há um outro componente estratégico para Moscou manter-se à margem da escalada militar entre Israel e Irã. A crise já começou a beneficiar o Kremlin de forma tangível: com o aumento das tensões, o preço do barril de petróleo Brent saltou quase 10%. Para uma economia sob sanções e fortemente dependente da exportação de energia, esse cenário representa um fôlego orçamentário imediato.

“Enquanto o preço do petróleo estiver alto, a Rússia pode obter bilhões de dólares em receitas adicionais”, avaliou ao Washington Post Sergei Markov, analista próximo ao regime de Vladimir Putin.

Ou seja, manter-se como ator diplomático e evitar um confronto direto com Israel é, por ora para a Rússia, uma escolha rentável. Moscou lucra com a instabilidade, sem precisar se comprometer diretamente com o conflito.

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